7 de fevereiro de 2007

O Ponto de mutação


“Tu perguntas o que a lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados? Respondo que o oceano sabe. Por quem a medusa espera em sua veste transparente? Está esperando pelo tempo, como tu. ‘Quem as algas apertam em seu abraço…’, perguntas ‘mais firme que uma hora e um mar certos?’ Eu sei. Perguntas sobre a presa branca do narval e eu respondo contando como o unicórnio do mar, arpoado, morre. Perguntas sobre as plumas do rei-pescador que vibram nas puras primaveras dos mares do sul. Quero te contar que o oceano sabe isto: que a vida, em seus estojos de jóias, é infinita como a areia incontável, pura; e o tempo, entre as uvas cor de sangue tornou a pedra dura e lisa, encheu a água-viva de luz, desfez o seu nó, soltou seus fios musicais de uma cornucópia feita de infinita madrepérola. Sou só a rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho, como tu, investigando a estrela sem fim e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A única coisa capturada é um peixe dentro do vento.“

Pablo Neruda